Engenheiros, escassos e pouco qualificados
Em nenhum outro setor da economia a escassez de profissionais
qualificados é tão perceptível quanto na engenharia, nas suas mais
diversas especializações. Estudos variados comprovam esse cenário e até o
governo federal já diagnosticou essa realidade.
O
Brasil possui seis engenheiros para cada grupo de 100 mil pessoas, de
acordo com estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O ideal,
de acordo com a Finep, seriam pelo menos 25 por 100 mil habitantes,
proporção verificada nos Estados Unidos e Japão.
O
mesmo estudo da CNI, entidade que representa o setor produtivo
nacional, diagnostica que dos 40 mil engenheiros que se diplomam
anualmente no Brasil, mais da metade opta pela engenharia civil - a área
que menos emprega tecnologia. Assim, setores como o petroleiro, de gás e
biocombustível são os que mais sofrem com a escassez desses
profissionais.
O
problema é tamanho que a Vale possui, há mais de seis anos, o ‘Programa
de Especialização Profissional’. Por meio de parcerias com
universidades, a companhia qualifica jovens engenheiros – com até três
anos de formados – nas áreas que possui maior demanda: mineração,
ferrovia, porto e projetos. Em 2011, 120 profissionais passaram pelo
programa, cujas aulas – com cunho acadêmico e visitas práticas às
instalações – têm duração de três meses. De acordo com Maria Gurgel,
diretora global de Recursos Humanos da Vale, esse número deve aumentar
consideravelmente em 2012. “Não consigo precisar o número de engenheiros
que passarão pelo programa. Isso depende das características de cada
contratação, do currículo e das eventuais deficiências que
identificarmos”, explica Gurgel, responsável por políticas de Recursos
Humanos de uma das maiores empregadoras de engenheiros do Brasil, senão
do mundo. Somente em 2012, serão contratados 800 desses profissionais
pela companhia.
O
presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
de Minas Gerais (Crea-MG), Jobson de Andrade, valida esse tipo de
programa, já que “as empresas cumprem um importante papel nesse
cenário”. Segundo ele, “é fundamental que as organizações privadas se
aproximem das universidades, firmando convênios e parcerias. Além disso,
é necessário investir em qualificação continuada de seus colaboradores,
tornando-os cada vez melhor qualificados”, analisa Andrade, formado em
engenharia civil.
A
parceria da Vale com órgãos públicos se estende a um convênio com o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Por meio da iniciativa, será publicado nos próximos meses edital para a
oferta de 12 mil bolsas de iniciação científica destinadas a estudantes
de graduação de engenharia, alunos do ensino médio (iniciação científica
júnior) e a professores orientadores. Será investida na ação R$24
milhões, e se espera dobrar o número de bolsas hoje disponíveis (6 mil).
Haverá oferta de bolsas em todo o país, preferencialmente em
instituições das regiões Norte e Nordeste.
- Países em desenvolvimento precisam de mais engenheiros
Por
estarem realizando maior número de megaprojetos de infraestrutura, os
países em desenvolvidos possuem maior demanda de engenheiros do que
países que já possuem uma malha viária concluída, por exemplo. a
realidade das estradas nacionais demandam maior cuidado e investimentos
recorrentes, os quais geram maior gerenciamento e supervisão dos
profissionais da engenharia. Este é apenas um exemplo. Mas a mesma
realidade se estende para as ferrovias, portos, fábricas e edifícios por
fazer. O Brasil tem apresentado índices de crescimento superiores à
média mundial. Essa realidade funciona como um motor que impulsiona
investimentos. As obras começam a sair do papel – e aí os engenheiros e
técnicos de alto nível passam a ser os personagens principais entre os
agentes econômicos.
Se
a expansão da economia é um incentivador da demanda, o déficit de
profissionais é um freio a esse processo. Levantamento do Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) indica que o
Brasil precisaria de 20 mil novos engenheiros por ano no país. Para
agravar o problema, grandes obras tocadas pelo governo federal – PAC, do
Programa Minha Casa, Minha Vida, do pré-sal, da Copa de Mundo de 2014 e
dos Jogos Olímpicos de 2016 – concorrem com a iniciativa privada na
contratação de profissionais de engenharia.
Hoje,
a realidade é bem diferente. A perspectiva de emprego certo é, sem
dúvida, um estímulo e tanto para renovar o interesse dos jovens
brasileiros pelos cursos de engenharia.
- Governo investe no aumento de vagas
O
país percebeu que a profissão é essencial para o setor produtivo e,
assim, o poder público começou a traçar políticas que dependem do
conhecimento dos profissionais dessa área. “É fácil entender a carência
de profissionais: demanda elevada de engenheiros versus alto índice de
engenheiros fora do mercado de trabalho e baixo índice de formação”. A
análise é do analisa o engenheiro civil José Tadeu da Silva, presidente
do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia).
Outro
indicador do problema que tem sido para o país a ausência de
engenheiros disponíveis no mercado, o governo se envolveu na questão e
lançou, em 2011, o Pró-Engenharia. Elaborado por uma comissão de
especialistas nomeada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes), o projeto prevê investimentos de R$ 1,3 bilhões.
O
objetivo do projeto é ampliar o número de engenheiros formados no país –
a partir de 2016 – e reduzir a taxa de evasão nos cursos de engenharia,
outro problema apurado pelas instituições de ensino. Entre 2000 e 2009,
o número de formandos de engenharia saltou de 22,8 mil para 47 mil.
Apesar do crescimento, a participação de engenheiros no universo de
formados caiu de 7% para menos de 6%. Como forma de comparação, na
China, 35% dos formandos nas universidades são engenheiros; e na Coreia
do Sul, 25%.
Para
conseguir tais objetivos, se pretende centrar as ações no tripé:
aumento do interesse dos estudantes do ensino médio pelas engenharias,
diminuição da evasão do curso nas universidades e melhoria da formação
de futuros profissionais na área.
Até
o momento, no entanto, apesar de todos os indicadores de escassez de
engenheiros, o Pró-Engenharia ainda não saiu do papel, devido à
discussões políticas dentro do próprio governo federal.
Outro
dado que demonstra o baixo interesse dos jovens pelas carreiras da
engenharia é o número de vagas preenchidas nas escolas de engenharia no
Brasil. Das 302 mil disponíveis, apenas 120 mil estão ocupadas, de
acordo com levantamento do governo federal.
A
Engenharia não é mais um curso de cinco anos. São cinco para se formar e
depois são outros 35 em que você precisa ficar se atualizando para
atender a realidade da demanda.
Vagas se multiplicam
Somente
no Catho (www.catho.com.br), há quase cinco mil vagas para engenheiros,
nas mais diversas áreas e níveis hierárquicos. Já no Curriculum
(http://www.curriculum.com.br), são mais de seis mil. Em ambos os
portais de emprego, trata-se de uma das três profissões com mais cargos
disponíveis.
Formam-se poucos engenheiros
O
Brasil perde na formação de novos engenheiros até mesmo de outros
países, emergentes. Anualmente, graduam-se em engenharia 30 mil
brasileiros. Na Coreia do Sul, 80. E na China, são 400 mil novos
profissionais especializados em engenharia, todos os anos.
Além
de poucos, o Brasil forma engenheiros em especialidades muito
similares. Dados do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (Confea), demonstram esse quadro. Do total de profissionais
registrados, 1.003.387, mais de 77% são formados em apenas quatro
especialidades: técnico industrial (339.822, ou 33,87% do total),
engenheiro civil (201.290, 20,06%), engenheiro eletricista (122.066,
12,16%) e engenheiro mecânico e metalurgia (109.788, 10,94%).
Com
a concentração em poucas especialidades, o mercado fica ainda mais
carente em outros nichos. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) diagnosticou que o Brasil precisa, especialmente, de engenheiros
de minas, de petróleo e gás, navais e de computação.
Outro
fator que favorece a carência de profissionais é a ausência de
aprimoramento permanente, em curtos espaços de tempo. “O profissional
que não tem uma atualização constante na sua área fica para trás. Então
essa escassez de que se fala não é apenas resultado da falta de
profissionais por si só, mas também do fato de que há profissionais que
já não atendem a realidade atual da demanda”, afirma o presidente do
Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), José Tadeu da
Silva.
- Não faltam engenheiros. Eles só estão em outras ocupações
Na
discussão sobre a escassez ou não de engenheiros no mercado, o
presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
de Minas Gerais (Crea-MG), Jobson de Andrade, acha que a real discussão é
outra. “A meu ver, com base nos números que possuo, não faltam
engenheiros no mercado de trabalho. Numericamente eles existem, eles só
não são atuantes. Precisamos resgatá-los, demonstrando a eles que o
mercado está aquecido e que a demanda por força de trabalho não é um
movimento passageiro, e sim uma realidade que veio para ficar”, opina o
engenheiro civil.
Para
ele, o número de vagas de engenheiros nas faculdades atende à expansão
do PIB nacional. “Precisamos requalificar os engenheiros que se
formaram, principalmente nos anos 80, e torná-los aptos a atuar nas
vagas existentes atualmente. Agindo assim, agregaremos maior valor aos
nossos profissionais, ao mesmo tempo em que resolveremos a um dos
principais gargalos: o gerenciamento e supervisão de nossos n projetos”,
enfatiza.
Para
Maria Gurgel, diretora global de Recursos Humanos da Vale, o problema
não é o número de engenheiros no mercado, mas sim sua baixa
qualificação. “Faltam ao Brasil engenheiros qualificados. Profissionais
com esse perfil, infelizmente, estão em falta no mercado, o que
dificulta e, muitas vezes, inviabiliza a realização de alguns projetos”,
afirma.
FONTE=http://www.techoje.com.br